terça-feira, 10 de junho de 2008

Camões e tudo o resto - a propósito do 10 de Junho



João Prates, Simultâneos II (2002) © CPS


O dia em que se celebra o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas (designado como Dia de Camões, de Portugal e da Raça até 1974) surge como um bom pretexto para falar (mas não muito) do poeta.

O 10 de Junho de 1580 é o dia em que morre Luís Vaz de Camões. Nesse mesmo ano iniciaria o reinado dos Filipes em Portugal, na sequência da crise sucessória deixada pela morte prematura de D. Sebastião. Ainda bem que Camões morreu antes da nossa hispanidade filipina, se não os espanhóis provavelmente ainda diriam hoje que "Camones" era na verdade castelhano, e Os Lusíadas provavelmente estaria transformado em Los Castillíadas. Mas adiante... O poeta português mais prominente da época renascentista nasceu em data e lugar incertos, mas sabe-se que a sua família é de origem galega (ah bom! Então afinal sempre há sangue espanhol!...) e foi um verdadeiro cidadão do mundo, tendo vivido em Lisboa e Coimbra, e viajado pelo oriente, com paragens - entre outras - por Goa, Macau ou mais tarde a Ilha de Moçambique. As agências de viagens poderiam até oferecer um pacote "Destinos Camonianos", que seria sem dúvida muito bem recebido pelos fãs dos roteiros culturais...

Para além da epopeia épica Os Lusíadas, de 1572, Camões legou-nos uma extensa obra lírica e dramática, que o coloca ao nível dos seus contemporâneos (tardios) Miguel de Cervantes ou William Shakespeare.

Júlio Pomar, Camões
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.

Luís Vaz de Camões, 1595

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